Acontecimentos de diferentes durações convergem na excitante e contraditória situação atual da Colômbia, determinando o futuro de uma região que se definiu, a partir dos diferentes espaços de integração regional, como um território de paz. Em primeiro lugar, as relações historicamente carnais com a geopolítica contra-insurgênte dos Estados Unidos que têm sido mantidas pelas elites locais durante um século. Em segundo lugar, o ciclo crescente de mobilização popular que liga as últimas greves agrárias, as mingas indígenas, os protestos durante a pandemia e a explosão social de abril de 2021 que colocam um país, normalmente protegido pela grande mídia, no centro das atenções da opinião pública regional e das organizações internacionais de direitos humanos. Em terceiro lugar, os Acordos de Paz de Havana e o fim de um ciclo de confrontos entre as FARC-EP e o Estado colombiano que contou mais de meio século, o que não implicou, contudo, o fim do conflito armado interno. Em quarto lugar, o atual ciclo eleitoral e as possibilidades sem precedentes de uma coligação progressista, o Pacto Histórico, e a união de Gustavo Petro e Francia Márquez, para ganhar a presidência e a vice-presidência da República.

Compreendendo que, em palavras do grande romancista colombiano, nada condena a Colômbia a 100 anos de solidão latino-americana ou 100 anos de guerra interna, e alguns dias antes do segundo turno das eleições presidenciais que poderia marcar um novo rumo histórico para a nação sul-americana, ALAI apresenta o seu Dossiê “Colômbia: uma segunda oportunidade na terra”, correspondente ao mês de Junho de 2022. A mesma segunda oportunidade expressa pelo nascimento de Manuela, terceira filha de Vanesa, antiga combatente das FARC que procura uma nova vida na conflituosa e empobrecida região de Chocó. Ambos ilustram a capa deste dossier, numa fotografia tirada pelo fotojornalista Federico Ríos.

Jornalistas, investigadores, intelectuais e líderes sociais – do movimento de mulheres e diversidade, do sector sindical e do movimento camponês-indígena – oferecem um olhar aguçado sobre o país, as suas ligações internacionais, as causas profundas dos seus conflitos e também as suas possibilidades, através de uma série de ensaios, artigos de opinião, análises e entrevistas.

Alguns dos tópicos abordados neste material, publicados em espanhol, inglês e português, são: o contexto eleitoral, as suas tendências e protagonistas; a construção incipiente de uma nova hegemonia pós-Uribe; a presença opaca mas gravitante do tráfico de droga e do paramilitarismo; as relações de subordinação económica e o Acordo de Livre Comércio de uma década entre os Estados Unidos e a Colômbia; o lugar do país e dos seus movimentos sociais no cenário ambivalente da América Latina e das Caraíbas; os processos de militarização, participação na OTAN e geopolítica de contra-insurreição; a inconclusividade do Acordo de Paz, o papel das guerrilhas desmobilizadas e a continuidade do conflito armado interno; as lutas do movimento feminista e a sua resistência à reacção patriarcal encarnada por novas figuras retrógradas; os pontos de vista do movimento camponês sobre o novo cenário político nacional, etc., etc.