Dallagnol y Moro

Millôr Fernandes dizia que o Brasil tem um enorme passado pela frente. A ação da gangue da Lava Jato confirma tanto a validade como a atualidade desta constatação bem humorada; porém, trágica.

No dia 14 de setembro de 2016, numa solenidade espalhafatosa transmitida ao vivo pelas redes de rádio e TV do país, Deltan Dallagnol sentenciou: “um conjunto de evidências e de contextos que nos fazem concluir, para além de qualquer dúvida razoável, que Lula foi o comandante do esquema criminoso descoberto pela Lava Jato”.

Na pantomima de apresentação do powerpoint, o convicto Deltan sustentou que “provas demonstram que Lula era o grande general que comandou a realização e a continuidade da prática dos crimes”.

O pastor-procurador disse ainda ter “evidências que apontam para Lula como peça central da Lava Jato”, como pode ser revisto neste trecho de 45 segundos de transmissão da TV Migalhas.

No filme Getúlio, produzido por Carla Camurati, Carlos Diegues e Pedro Borges e dirigido por João Jardim em 2014 [dois anos antes do powerpoint do Deltan, portanto], tem uma cena em que Carlos Lacerda, em papel representado pelo ator Alexandre Borges, desenha na lousa o powerpoint de condenação do então presidente Getúlio Vargas.

Naqueles dias tumultuados de agosto de 1954 que precediam o suicídio de Getúlio, Lacerda denunciava que os envolvidos no atentado da Rua Tonelero [4/8/1954] estavam “todos a serviço de um único chefe”, e, então, teatralmente, circunda com giz o nome de Getúlio situado no centro do fluxograma.

Num gesto teatral ensaiado, tal como o convicto Deltan viria a repetir 62 anos mais tarde, Lacerda sentenciou: “Perante deus, eu acuso um só homem pelo assassinato do major da Aeronáutica e pelo tiro que me atingiu. Esse homem é o presidente da República, Getúlio Vargas!” [vídeo].

Deltan e Lacerda são duas faces de duas épocas diferentes do fascismo brasileiro. Ambos representam falanges de extrema-direita fascista que cumpriram, cada qual a seu tempo, papel decisivo na desestabilização política e na conspiração para derrubar governos de recorte nacional-popular.

Enquanto Lacerda foi um expoente implacável e canino do antigetulismo, a facção Moro-lavajatista cumpriu idêntico papel na disseminação do ódio e da violência antipetista.

Por trás desses dois acontecimentos da extrema-direita fascista, em comun há a atuação conspirativa e de tutela militar das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

Se o Brasil tem um enorme passado pela frente, como dizia Millôr, é porque a história sempre pode se repetir., e para pior Marx dizia que a história acontece pela primeira vez como tragédia e pela segunda vez como farsa. No Brasil, no entanto, esta repetição histórica é uma terrível tragédia.


 

1 COMENTÁRIO

  1. Não confundir. Saccagnol é um golpistazinho de R$ 1,99. Lacerda era um ás da política. Um dos direitosos mais articulados que já houve. E não esqueçamos que o corvo, como era então chamado, se uniu às forças que ajudou a derrubar, grandeza que um Saccagnol jamais terá, até porque falta hombridade para isso. E um detalhe, ainda: o atentado na Toneleros existiu; um porralouca, da família do Presidente, facilitou o trabalho do corvo. Agora não. A farsa, inclusive a Jato, foi total.

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